A Rapariga da biciclete vermelha era uma virtuosa pianista. Digo era porque…bem... um problema com o álcool não só lhe arruinou os nervos, como lhe entaramelou o talento e sobretudo… sobretudo, lhe descoordenava os dedos, falhando teclas a rapariga da biciclete vermelha.
Desde há muito que a conhecia, mas sempre considerara certas manifestações de excentricidade como marcas de um génio criador. Só verdadeiramente me apercebi da dimensão do drama para o qual deslizara quando num dia, por mera casualidade, a encontrei a caminho do Minipreço.
Por fortuna não chocámos, pois ela cruzou a rua sem sequer olhar para os semáforos e assim, ao invés de pedalarmos juntos para o Hospital fomos, pelo contrário, fazer compras os dois.
Uma ida ao Minipreço
Logo ao ter-te encontrado,
Soube não ter ido ao Minipreço
Apenas fazer compras ao mercado…
Pois enquanto me abasteço
Penso, reflicto e faço escolhas:
O café, o pão e o leite…
Quase esquecia o azeite!
E de soslaio tu me olhas
Por detrás da prateleira,
Vou corado, vou na esteira,
Sigo-te em perseguição,
Para junto do balcão.
E num timbre mui tremente,
Dizes tu a meia voz
Quando estamos os dois sós,
Mal me encarando de frente:
-“ O que você me aconselha,
Levo ou não queijo de ovelha?”
Circulamos para o largo,
Vamos pra pastelaria,
Eu tomo um café amargo
E a conversa a enfastia…
Que atitude, que estarola,
Só faltou falar da bola!
Ai destino em contra-mão!
Pois o mal de que padeço
Não se cura em minipreço.
São dois mundos: um senão.
De resto, ela não levou o queijo de ovelha. Ao invés, as suas compras limitaram-se a 2 latas de atum, meia dúzia de ovos e 1 garrafa de macieira. E sinceramente - aqui entre nós - quando as compras semanais duma ciclista são ovos, atum e macieira… Alguma coisa teria de pedalar muito mal...
1 comentário:
Enviar um comentário