quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pedro procura Emprego


Recebi um email  estranhíssimo 
que quero partilhar convosco:


Eles sempre falaram em "despedimentos amigáveis", mas quando a hora da verdade soou, não houve nada de amistoso nos ditos. Eu quis ser amigo deles, contudo! Sentei-me diante de 3 directores, muito acanhado e solícito. Eles tinham copos de água, à frente, pousados na mesa; e eu tinha copos de vinho, atrás, vertidos no bucho. Suei à entrada e eles suspiraram à saída - ou pelo menos gosto de pensar que assim foi.

Como o despedimento era amigável, empertiguei-me o mais possível e expliquei simpaticamente:

"Os srs. directores, querem-me despedir amigavelmente e eu vou ser vosso amigo" - e ganhei balanço!  - " vou ser vosso amigo poupando-nos a todos grandes trabalhos, pois com a crise que está, só vejo duas possibilidades a perfilarem-se no meu futuro"

E lancei o bluff:  
"pois ou vocês me pagam uma indemnização amistosa o suficiente para que possa comprar uma auto-caravana, fazer-me à estrada e fugir do país, para não dar mais prejuízos e agravar a dívida... Ou estamos todos em maus lençóis, pois com a crise lá fora e com a ninharia que me concede a lei, para garantir 1 tecto e 3 refeições diárias nos próximos 10 anos, mais vale gastar os vossos tostões numa arma e despachar meia-dúzia de filhos da puta, a começar por três."

E, por 1 momento, os 3 directores entre-olharam-se.
... Até que um rebentou a rir e - entre gargalhadas grasnadas - exclamou:  
"Homem!!! Onde é que você julga que está? Na Grécia?"

Foi aí que me caguei todo: não estava! E à entrada de leão seguiu-se a saída de cordeiro... Quero contudo afiançar-vos que estaria disposto para fazer alguma coisa de útil na minha vida e salvar o povo, de passar meia-dúzia de anos na prisão comendo iogurtes, lendo ficção científica, com tudo salpicado a yoga. Mas infelizmente, tal cenário revelou ser uma projecção excessivamente optimista.

Diante de mim não tinha apenas 3 directores, mas a santíssima trindade: Engenharia, Economia, Direito. E o advogado já acompanhado pelos sorrisos complacentes dos outros dois directores-gerais, explicou-me as implicações jurídicas das minhas proclamadas formas de luta:

"Meu amigo... a vida não é uma brincadeira! Estamos a falar dum homicídio qualificado em primeiro grau com um enquadramento legal de pena que vai dos 8 aos 25 anos. Mas como você despachava «meia-dúzia de filhos da puta, a começar por três», caiam-lhe em cima acusações de homicídio múltiplo, não apenas premeditado. Está a ver que nunca apanhava os 8?"

Já começava a ver tudo turvado,sim.

"E uma vez preso, você não iria mostrar arrependimento, pois não? Porque não se trataria duma cega vingança, duma súbita sede de sangue dum louco desvairado, mas teria sido o acto tomado em consciência num gesto extremo para «salvar o Povo» - expressão sua, não é assim?"

"Sim" - ainda balbuciei.

"Então, está a ver!" - exclamou triunfante:  
"Se você despachasse passionalmente a sua mulher à pancada, com um bom advogado talvez saísse ao fim de 2 anos; mas acusado dum crime político, mantendo a pose do justiceiro popular, não apanhava menos de 22, pois não? Ou pensa que iriam condoer-se de si durante julgamento em Tribunal? Esqueça a opinião pública, meu amigo! A imprensa arrasava logo consigo. Nem com um camião de bons advogados! Quanto mais que, depois de você ter despachado exemplarmente "meia-dúzia"... iriam querer fazer de si um bom exemplo também."

Era muita fruta, sem dúvida! E, ainda antes de começar, renunciei à luta armada. Restou-me corar bastante, entaramelar umas observações e no fim, agradecido, receber dois salários e umas pancadinhas nas costas.
E foi assim que pedalei dali para fora.

 Assina-se
Pedro Passos Trocados

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