E um pequeno
milagre deu-se! As garrafas de macieira duravam dois dias e passámos a comer
fruta com regularidade! Metodicamente também, a rapariga da biciclete vermelha começou a ensaiar, teclando
desenfreadamente o bendito e encomendado concerto. Aquilo era como um
incessante loop musical dia e noite, enchendo o apartamento com notas musicais
e, embora fosse preciso enchê-la com notas das outras, eu vogava na melodia
tocada, olhando para o tecto em suspensos suspiros.
Para mim era o perfeito
e sonhado amor preenchido de sonetos e sonatas: ela tinha a música na ponta dos
dedos e tinha-me na palma da mão. Mas como eu também não percebia nada sobre
composição musical, aceitava talvez demasiado levianamente que ela explodisse num misto de
horror e pânico: “falha-me o dedo, falha-me o dedo mindinho num dó em semi-fusa numa passagem
mais traiçoeira. Falha-me o dedo mindinho”...
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